quinta-feira, 28 de novembro de 2013

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Biografia

Não me estranhe doutor
É que de um lado sou nordestina
e do outro imigrante
italiano trabalhador
E do meu pai herdei os olhos
mas o olhar é do avô
Se tenho a pele amarelada
é de tanto comer pequi
Que minha tia montesclarense
trouxe lá do Piauí
E essa mania de poesia
é do bisavô que nem conheci
Se tenho as pernas grossas é por que
minha família rodou muito esse Brasil
Passou pelo Rio de Janeiro, Espirito Santo
e lugares que você nunca ouviu
O meu sobrenome veio de Portugal
junto com o bacalhau
mas essa fome de mundo
eu não sei daonde vem
Alguns voltaram pro estrangeiro
e eu fui também
Por que o meu sangue é mestiço
e fronteira alguma me retém
Então não me estranhe, doutor
Por que meu destino ninguém me diz
Do meu pai herdei os olhos
Mas sou dona do meu nariz

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

vadia
vá dia
vá de dia
por que a noite chegou
com segredos que não cabem
na sua saia curta
não saia
não curta
VADIA

Uma puta estuprada e nove meses depois nasce o filho da puta.
Se a noite é uma criança ela tem medo do escuro
 sua música não é de ninar
e não acorda na cama dos pais
mamadeira não é leite


O silêncio nosso de cada dia

- Tá pensando em quê?
- Cê me perguntou isso d'outra vez
- Tô perguntando de novo
- Eu penso em várias coisas ao mesmo tempo
- Cê já disse isso d'outra vez
- Tô dizendo de novo

...

E ficou aquele silêncio entre nós, aquele silêncio de sempre que dizia tanto e gritava mais ainda e ainda assim não falava nada. E eu me perguntava se aquele era o silêncio dos estranhos ou dos íntimos, dos indiferentes ou dos amantes, naquela tênue diferença tão significante e perturbadora e contraditória que um silêncio pode carregar.