sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Como uma luva

Nos meus passeios por Paris com  uma amiga francesa, nos divertimos fazendo sessões de fotos, pegando o primeiro metrô que passar sem saber pra onde vai, e terminando o dia tomando chocolate quente em um café. Mas uma das nossas atividades favoritas é visitar brechós. Dos mais caros e chiques, que vamos só pra explorar e babar nos artigos vintage, aos mais baratos em que achamos preciosidades por preço de banana!
Numa dessas "aventuras", ela, que detesta a marca de roupas H&M por que todo mundo compra lá e se veste igual, achou um vestido vintage branco maravilhoso, estilo anos 50, bem digno de Marylin Monroe, adivinha de onde? H&M da Áustria! E eu, achei uma jaqueta jeans da Levi's por 10 euros, que me vestiu como uma luva. Eu, que sempre quis uma jaqueta jeans mas nunca achava uma lavagem que me agradasse. 
Isso me fez pensar em um filme que eu assistia quando era pequena, "Quatro amigas e um jeans viajante". No filme, um grupo de amigas de personalidades e tipos físicos completamente diferentes experimentam uma calça jeans que veste incrivelmente bem em todas elas. Quando essas amigas tem que se separar durante as férias, elas decidem compartilhar o jeans. Cada uma fica com ele durante uma semana e envia para a outra, acompanhado de uma carta que narra as histórias que viveu enquanto o vestia.
O que eu acho mais bacana desse negócio de brechó, além, é claro, de achar peças "valiosas" por um ótimo preço e fugir um pouco das modinhas ditadas pelas lojas de departamento, é pensar que cada uma daquelas roupas carrega uma história.
Quando a gente compra uma roupa novinha, é só um pedaço de pano esperando pra ter sua história escrita. E, aos poucos, a gente vai escrevendo nossa história enquanto a veste. Afinal, quem nunca teve uma "calcinha da sorte", ou aquela blusa que sabe-se lá por que toda vez que a veste acontece algo desagradável? E as roupas "herdadas" das nossas avós, mães, irmãs e primas? Quando pequena, eu só usava as roupas usadas da minha prima mais velha, e eu nem tinha mais vontade de sair pra comprar roupas pra mim, eu me divertia mesmo era reaproveitando as dela.  E acho que isso virou um hábito.
Pode ser só superstição, mas eu gosto de pensar que cada roupa nossa, além de nos ajudar a expressar um pouco da nossa personalidade e da nossa história, carrega um pouco da gente. E, quando a gente usa a roupa de um desconhecido, é algo mágico. É uma roupa que pra alguém é velha e sem graça, uma roupa que já viveu tantas histórias e que agora vai achar um outro alguém pra lhe dar novos casos. Por que ele/ela se desfez dessa roupa? Ficou pequena? Enjoou? Saiu de moda? Como se sentiu quando a comprou? Ficou feliz e entusiasmado, por ter se apaixonado por ela desde a primeira vez que a viu na vitrine, ou foi só uma roupa que foi "obrigado" a comprar pra uma ocasião especial e depois quis se desfazer dela pra dar espaço no guarda-roupa? Quantas histórias viveu enquanto a vestia? Quantas pessoas conheceu, quantos beijos deu, quantas vezes teve essa peça tirada do seu corpo por alguém? Quantas cervejas derramou nela, quantos sorrisos deu, quantas vezes se deixou encharcar pela chuva, e quantas lágrimas limpou com a barra da manga? 
O passado dessa roupa é um mistério, e agora ela começa a escrever uma nova história no meu corpo. E já começou bem.