terça-feira, 25 de dezembro de 2012

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Gente grande

Sempre achei papo de velho careta e mala: "Nossa, como você cresceu! Você está uma mocinha! Lembra de mim?". Quando pequena, morria de raiva dessa última pergunta. "Como você queria que eu lembrasse de você se eu te vi há mil anos?", pensava. Mas meio com medo de deixar a "titia" sem graça, concordava com a cabeça, em silêncio. "Lembra?! E qual é meu nome?". Eu ficava calada.
Essas histórias ainda ficam na minha cabeça (sinal que não estou tão velha assim), mas hoje mesmo me peguei dando uma de coroa chata. Fui à casa de uma amiga que por motivo e outro, não via há dois anos. E antes desses dois anos vivíamos juntas, todo final de semana eu ficava na casa dela e já me sentia em casa. Quando vi a irmãzinha dela, que surpresa! E-no-r-me! Tinha virado gente! Aquela menininha que antes brincava comigo caladinha e às vezes fazia birra com vergonha de cumprimentar, veio toda-toda dando até dois beijinhos na maior simpatia e contando mil casos. Realmente, uma mocinha. Foi quando minha amiga perguntou se ela se lembrava de mim, e, não fiquei surpresa, ela não lembrou. E apesar de ter nas minhas memórias esse tipo de momentos embaraçosos, não pude evitar dar uma de titia! Falei mesmo, o quanto ela havia crescido, e o quanto sua personalidade estava florescendo, e ainda comentei o trabalho que ela vai dar quando crescer um pouco mais - que menina linda e esperta!
Ao contrário do que eu pensava quando criança, não se passaram mil anos desde quando vi a pequena Giulia pela última vez. Passaram-se dois anos. Ela tinha quatro, agora tem seis. O que, para uma criança, funciona como se fossem mesmo mil anos. 
Percebi que o que me assustou mesmo não foi o crescimento daquela menininha, mas o nosso. O meu, e o da minha amiga, que, para nós, os dois anos também acabaram sendo como mil. Nossa altura não mudou muito e nem a nossa personalidade, mas amadurecemos, mudamos de turma, ficamos mais bonitas. Descobrimos quem nós somos e, naquela época, uma contribuiu muito para a outra com relação à isso. E, de repente, chegou a nossa hora de "virar gente grande". Não foi a Giulia que cresceu, ela continua sendo uma criança. Fomos nós que crescemos, e estamos virando adultos. De repente surgiram as responsabilidades, as escolhas, os amores, e é agora que vamos assumir tudo aquilo que, durante esses dezoito anos de vida, fomos resolvendo ser e nem sabíamos. 
Sei que ainda sou nova, tenho uma vida inteira pela frente e o mundo em minhas mãos, mas o sentimento do tempo começa, pela primeira vez realmente, a me atingir. Agora eu vejo, que todos os clichês que os adultos nos diziam eram verdade: o tempo voa, eu era feliz e não sabia, tudo era ao meu favor e eu poderia ser, mais ainda, quem eu quisesse. E escolho até hoje, me alternando entre cortes de cabelo e programas diferentes, tentando descobrir ainda, aos quarenta e quatro do segundo tempo, quem eu sou e quem eu quero ser. Eu não preciso ser sempre a mesma, sei que enquanto eu viver vou me moldar como pessoa, mas aos dezoito anos já é bom ter pelo menos uma ideia de quem são meus verdadeiros amigos e do curso que eu quero pra faculdade. Acredite, para mim, agora, isso é sim, questão de "ser ou não ser". Sei que ainda posso ser o que eu quiser e ter tudo o que eu desejo, e que tenho todas as condições para isso. O meu medo é não saber fazer a coisa certa com as oportunidades que me são oferecidas. Tenho a estranha certeza, agora, de que o que aconteceu não pode ser desfeito, que cada escolha, mesmo que mínima, tem suas consequências: boas, ruins ou, simplesmente, consequências. Não há volta, nada vai ser como era antes (e isso me dá até um certo alívio! Deus me livre do primeiro beijo e de todas aquelas crises dos onze anos). O fato é que cada dia, cada segundo, não volta mais, e vivemos em uma contagem regressiva para sermos o que sempre fomos destinados a ser: cinzas. Já o caminho antes disso, é a gente mesmo quem escolhe.

domingo, 9 de dezembro de 2012

Extorquindo

"Eu poderia estar matando, roubando ou extorquindo, mas estou só..." é uma frase que eu uso bastante quando me dirijo à minha mãe pedindo alguma coisa ou me justificando de um pequeno erro. Exceto pelo "extorquindo", que diabos quer dizer isso? Liguei pra minha mãe para perguntá-la o que significa. Eu poderia até procurar no Google, mas fiquei com medo dos significados, dos adjetivos, das imagens. Da forma como a palavra me seria exposta, por que eu sei que coisa boa não é. Às vezes vindo da minha mãe - a explicação da palavra, claro - ficaria mais leve. Mas ela, me contrariando, me mandou procurar no Google. Vai ver é que ela tem medo de me explicar também...
Não sei até agora o que "extorsão" quer dizer.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Crê Ser

"Crescer dói", já me dizia mamãe naquela época em que eu vivia cheia de roxos, com minhas pernas e braços esbarrando em paredes e móveis, ainda ignorantes de suas novas proporções, vindas daquele crescimento súbito de lá meus doze anos de idade. Às vezes, destrambelhada, até derrubava objetos ou acertava alguém sem querer, estranhando aquela força que agora era minha. "Crescer dói muito", me dizia mamãe. E só entendo isso agora, que meus ossos e músculos já se acomodaram em seus devidos lugares e tamanhos, e que meus hormônios já estão mais ou menos controlados. E como dói, mamãe...

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Errepetindo

Saber aprender com os erros dos outros, pra não ter que aprender com os próprios... Nenhum erro é novo, a humanidade vem cometendo os mesmos erros desde que o mundo é mundo.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Recarregando


Hoje era dia de lavar o cabelo. Lavo dia sim dia não. É que cabelo grande é meio complicado de lavar todo dia, e ele fica seco. A última vez que eu lavei foi no sábado à noite, quando saí com você. Ontem foi domingo, hoje é segunda, são onze e meia, quase terça já. Tomei banho demorado, alternando entre muito quente e muito frio, mas esqueci de lavar o cabelo. Tô fazendo hora esperando o celular terminar de carregar na sala pra poder levar ele pro quarto pra no mesmo ritual de sempre, deitar, apagar a luz e ligar pra você, que provavelmente vai reclamar da minha demora para ir dormir, na verdade achando ruim a demora para te ligar, dizendo que eu preciso dormir cedo, que dormir pouco faz mal. Mas é que o meu celular tá novinho, eu não quero viciar a bateria. Eu comprei ele nesse final de semana, por que semana passada eu perdi meu antigão, como já perdi vários. E eu sei que perdi mesmo, por que aquele alí nem valia a pena roubar. E o bom é que eu fui na loja querendo só recuperar o meu chip e acabei ganhando esse aparelho com os pontos da conta. Você provavelmente ainda vai estar de pé quando eu te ligar, estudando, conversando com o vizinho, essas coisas que você sempre faz. Não sei como você arruma tempo e energia para fazer isso tudo. Nunca te ouvi dizer que tá com preguiça. Você é o que sempre dorme tarde e ainda pega no meu pé dizendo que eu tô fazendo coisas demais. Eu vou te contar do meu dia e você do seu, vou ficar tão cansada que vou responder tudo com um "uhum" e logo antes de desligar vou te perguntar: "dorme comigo?", e você responde: "durmo sim, abraçadinho".
Fui na cozinha pegar água e aproveitei para encher a vasilha, que já estava por um dedo. Voltei. Que saco, esse celular tá demorando muito pra carregar, eu tinha carregado ele ontem. Será que ele já tá com a bateria viciada? Sentei para escrever. Pelo menos vou estar fazendo algo útil... ou não.
Saco. Amanhã acordo muito cedo. Tenho prova logo de manhã e mil trabalhos para fazer. Final de ano é sempre assim, eu enrolo nove meses e nas duas últimas semanas eu corro contra o tempo. Eu não quero ficar de recuperação. Tô cansada da escola e quero mesmo é férias para ficar à toa e fazer tudo o que eu tenho planejado esse ano mas não tive tempo de realizar. É sempre assim. As férias vão chegar e eu não vou fazer nada. Ah, e daí? Férias é férias, né? É férias ou são férias? Sempre tive dúvida. Amanhã era pra ser o meu dia de acordar mais tarde, mas a prova de francês que era pra eu fazer no sábado vai ser no mesmo horário da prova final na escola, aí eu tive que passar o teste de francês justamente pro horário que eu deveria estar em casa dormindo. Podiam ter marcado pra outro dia, né? Por que aí eu estaria na escola e mataria aula...
Tem um troço vibrando. O celular carregou. Já te ligo

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

É Isabel, pô!

Hoje a vizinha simpática me chamou de novo pelo nome errado - que todos costumam enganar. Mas eu nem corrigi, nem liguei. Fiquei até meio aliviada, por que eu nem sabia o nome dela mesmo.

Mim quer ser Eu

Mim precisa de férias. Mim precisa de tempo para fazer as obrigações, as vontades, e depois disso tudo ainda descansar um pouquinho. Mim só quer ter tempo sobrando para fazer isso tudo que ela já faz só que sem ter que se preocupar com o tempo. Mim quer férias para não ter obrigações, e sobrar ainda mais tempo para organizar o quarto, pintar as paredes, fazer esportes, botar em dia o bronzeado, e cumprir uma divertida programação de férias que Mim mesma se propôs. Esses compromissos que Mim inventa para si mesma só pra dar algum sentido à vida quando não tem mais nenhuma obrigação a cumprir.

Hipócritas Felizes?


Talvez os hipócritas sejam mesmo mais felizes. Os hipócritas, idiotas, ignorantes, alienados, ou como você queira chamar.
É que essa coisa de observar o comportamento das pessoas e achar a coisa mais estranha do mundo, questionar tudo o tempo inteiro e querer mudar tudo o que eu não concordo, pode ser muito cansativa. 
E às vezes também fica chato ficar sozinha o tempo todo por não achar nenhuma companhia que valha a pena, ou ficar calada a maior parte do tempo por não conseguir me envolver em nenhuma conversa superficial nos corredores da escola. Pior ainda é abrir a boca e ter que ficar me explicando e justificando por ninguém entender meu jeito diferente (eba!) de pensar e achar que precisei fumar maconha para ter minhas viagens.
Deve mesmo ser mais fácil usar a roupa da moda ao invés de ter um estilo próprio, escutar os "hits" de merda da rádio e ir em qualquer festa sem se incomodar com a música que está tocando ("por que pôxa, é o Michel Teló, cara!"). Deve ser mais fácil ver que o sistema de transporte público está uma bosta e pegar o carro de quatro lugares para dirigir sozinho. O carro que você comprou em setecentas prestações e que nem vai mais ser seu quando terminar de pagá-lo. Deve mesmo ser mais fácil jogar lixo no chão e se queixar das enchentes. Pagar propina ao policial que te pegou na blits e reclamar dos políticos corruptos do seu país. Deve mesmo ser mais fácil fazer compras sem nem mesmo se PREOCUPAR em PROCURAR saber a procedência do produto, mas depois fazer parte de campanhas ambientalistas no facebook para aliviar a consciência. Deve mesmo ser mais fácil julgar uma pessoa sem se dar ao trabalho de conhecê-la. Deve mesmo ser mais fácil copiar o dever de casa ao invés de estudar e aprender (tudo bem, pra essa eu abro uma exceção, e, admito, sou hipócrita nesse ponto!), e É MESMO mais fácil abrir uma exceção para cada regra que não nos favorece.
Deve ser mais fácil dizer que Bob Marley morreu ou por overdose de maconha, ou por excesso de piolho por causa dos dreads - aham - e divulgar frases alheias com a sua autoria sem nem mesmo procurar saber sobre a vida dele.
E deve mesmo ser mais fácil falar do sapato da moda que você comprou, e da festa que você foi, e da menina que você "pegou". Comentar da fulana que fez isso, da ciclana que fez aquilo e da outra que você está criticando a roupa, - só por que ela não se veste igual a você - do que realmente pensar para falar.

 Acho que no fundo somos todos um pouco hipócritas, mas fico em dúvida se os mais felizes somos nós hipócritas conscientes ou aqueles hipócritas, hipócritas mesmo, que acham que são felizes vivendo desse jeito. 

sábado, 10 de novembro de 2012

"Sei que às vezes uso 
Palavras repetidas 
Mas quais são as palavras 
Que nunca são ditas?"

Legião Urbana - Quase sem querer

Volta, Maria!


Maria se sente sozinha. No fundo, sozinho todo mundo é, mas a gente desfarça isso com as nossas companias. Mas Maria escolheu se sentir sozinha. Ela se isola do mundo por achar que ela mesma se basta. No fundo, Maria sente falta sim, de ter uma conversa mais profunda com alguém, ou de trocar risadas que sejam bobas, mas verdadeiras. É que seu velho caderninho de anotações e a sua mente singelamente genial às vezes ficam cheios demais e nem sempre precisam se desmanchar em palavras, mas em abraços e gargalhadas à toa. Maria faz poesias que não mostra a ninguém, vai ver é essa raiva toda do mundo por achar que as pessoas não merecem tanta beleza.
Maria se isola do mundo por que não quer fazer parte desse monte de maldade, destruição, hipocrisia... Ela não quer se misturar às pessoas e correr o risco de falar obviedades, falar mal de todos como quem diz bom dia, não quer ter de ver aqueles olhares estranhos e zombados. Maria não quer se misturar à multidão que se esbarra na rua sem pedir desculpas, que não se olha nos olhos quando conversa, que só quer as coisas mundanas...
Maria, por não ter tais sentimentos ruins dentro de si, realmente duvidou um dia que eles existissem. Ela não fazia nada com maldade, não sentia inveja de ninguém. E não entendia como alguém poderia sentir inveja dela, logo dela. Mas um dia o mundo a provou que esses sentimentos existem sim, no coração das pessoas. 
Maria então se isolou do mundo por que não podia mais sofrer com ele, seu coração é muito bom e as suas intenções, das mais puras, e ela morre de medo de se contaminar com essa imundice.
O que Maria não vê é que se isolando, ela fortalece essa sujeira ao invés de trazer o seu brilho. Ela não sabe o quanto pode encantar as pessoas e inspirá-las a ser tão incríveis quanto ela. O quanto as suas palavras, quando libertadas, podem ser doces, o quanto o seu olhar pode trazer paz.
Por que, ah! Se Maria soubesse, ela falaria mais, abraçaria mais, sorriria mais! E o mundo sorriria de volta vendo que não foi de tudo abandonado.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Isabel e Gabriella e Iaci e Maria e Amanda

Isabel e Gabriella e Iaci e Maria e Amanda queriam se encontrar. Queriam encontrar a elas mesmas, e acabaram achando umas à outras. Não que elas fossem iguais, eram até bem diferentes... mas se recusavam a ser iguais à todos os outros.
 Isabel e Gabriella e Iaci e Maria e Amanda  se acharam em meio à multidão e agora, juntas, continuam procurando por elas mesmas.

Rascunhando a vida

"Larga disso, menina! A vida já tá cheia de problemas e você aí, com a cabeça em arte! Vai fazer alguma coisa que presta!"

E Malu continuava desenhando nas margens do caderno de matemática...

Engolindo-me


Mal sabia eu, que por menorzinha que eu fosse, dentro de mim já era grande o suficiente para eu me perder.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Sol de inverno

Manuela andava pelas ruas mais ou menos vazias da cidade num sábado à tarde. Um sábado de primavera que guardava um restinho de frio do outono e que adiantava um pouquinho do sol de verão. A combinação perfeita. Existe coisa mais gostosa que se esquentar no sol quando os termômetros estão baixinhos? 
Manuela ia pra pracinha que não era muito longe de sua casa, mas que por algum motivo ela não costumava frequentar. Talvez fosse um programa tão singelo que fugia da percepção de Manu quando ela se deixava consumir pela rotina. Mas agora ela ia pra pracinha por que queria algo diferente. Nada radical, mas que de tão simples, chegava a ser ousado. Pessoas diferentes, crianças brincando, uma grama para deitar e ler um livro... uma pracinha que pra ela, acabou sendo um oásis em meio ao caos e a agitação da cidade e, dela mesma. Manuela resolveu ir pra pracinha e acabou achando o seu próprio sol de inverno, algo que aquecia a sua alma em meio à rotina fria e insensível.

Muito amor!

Que coisa boa é o amor! Amor de família, de amigos, de namorados. Amor por um gesto, por um sorriso, ou por alguém inteiro. Amor pela paquera, ou pelo sonho.
Esse clima de amor que tá no ar! A menina fria que nunca soube amar revelando sorrisos confirmando a amiga que a diz que ela está apaixonada. A outra, que já sofreu distribuindo seu amor para corações frios e agora resolveu distribuir seu amor para a vida e a vida acabou trazendo-lhe amor por ela mesma e um outro com "gosto de fruta mordida" de brinde. 
O casal que há muito tempo se gostava, mas ainda se dividiam entre outras paixões, e agora entenderam que se bastam um ao outro e resolveram assumir o alto -e delicioso!- risco do amor. A menina que acabou de forma desastrosa um amor infeliz e andava se ocupando com pequenos amores que ocupassem o seu coração, e que até a conclusão desse texto acabou ficando com um outro amor que na verdade, ela sempre admirou.
E eu, que outro dia aprendi com a minha avó os três tipos de amor na filosofia (Ágape, Filos, Eros), vi mesmo é que pra se ter amor, basta amar.

Essa noite...

Essa noite eu encontrei Mário Quintana...
Eu estava meio sonolenta, não conseguia me expressar direito, perdia meu raciocínio... mas de alguma forma ele se interessava em nossa conversa. Mesmo que eu não falasse muito, ter alguém para ouvir suas singelas genialidades parecia lhe agradar. Eu sabia que ele era meio solitário...
Nos encontramos em um lugar como a Savassi, e de repente estávamos na casa dele, em meio a pilhas de livros empoeirados e papéis soltos. Bem, apesar de ele morar em um hotel, aquilo me parecia um escritório.
Eu não me sentia muito confortável sozinha na casa de um senhor "estranho", mas ele dizia coisas tão interessantes e de uma ternura que eu ignorava o estranhamento e simplesmente não podia ir embora.
Eu conheci Mário Quintana...

"Sonhar é acordar-se pra dentro" Mário Quintana

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Somos todos Cegos, Surdos, Mudos

E se, por um dia, eu fizesse greve de silêncio, ofenderia os mudos?
E se por um momento eu tampasse meus ouvidos e fechasse meus olhos, os surdos e cegos me levariam a mal?
Mas sei que se o mudo, por um dia tivesse a chance de falar, emitiria mensagens de amor. O aleijado, podendo ter suas mãos, só as estenderiam para o bem. Os surdos, podendo ter seus sentidos de volta, realmente escutariam o que as pessoas têm a dizer, e os cegos, enxergariam as pessoas como são. 

Assistir a, Assistir à

E eu ficava parada lá, observando aquele lugar, aquelas pessoas, como se eu fosse uma mera espectadora do mundo.
Como um visitante de museu que fica parado em frente à uma obra tentando entendê-la, sem poder interagir. Não poderia nem mesmo tocá-la, pois minha mera posição de observador não permitiria tal ousadia. Entendê-la seria mesmo, o ápice da interação.

Talvez fazer papel de espectador seja a melhor forma de nos protegermos do mundo, de nós mesmos. Quando a barra pesa, a gente finge que não é com a gente, sai do museu, e volta pra as ruas para se misturar a multidão.

Joana perceb... Eu

Joana conhecia muita gente chata, e se recusava a ser igual à eles.
De vez em quando, encontrava também muita gente legal e interessante, que às vezes ficava até confusa. Cada um tinha um jeito, uma personalidade, um estilo de vida diferentes, e Joana foi questionando seus padrões. 
Ela percebeu que não poderia avaliar ninguém pela beleza: existem muitas pessoas bonitas por aí, mas o que as fariam especiais? Ainda mais que hoje em dia qualquer um pode ficar bonitinho com maquiagem e esses tratamentos loucos. A beleza é o mais relativo e instável de todos os valores. Quem é bonito para mim, não é para você, e quem é lindo hoje, pode não ser tão atraente amanhã. 
Joana também não poderia julgar pelo estilo. Mesmo que muitas vezes este se refira à personalidade, qualquer conjuntinho pode ser copiado de uma revista de moda ou comprado em uma loja de shopping. Passou a desconfiar, até mesmo, dos que tinham bom gosto. Por mais que boa música e faro para as artes rendam alguns "pontinhos", também existe muito babaca curtindo Led Zeppelin por aí.
Joana percebeu que pessoas legais podem ser somente identificadas pelo brilho nos olhos e alguma coisa a mais que somente quem também é especial pode sentir, algo que não tem rótulo e muito menos fórmula.

sábado, 20 de outubro de 2012

Luto

Hoje, no dia do seu aniversário, eu entendi a morte.
Como um flash, passou pela minha cabeça o por que de ela causar sentimentos tão singulares na gente, não importa de que forma ela venha.
A morte é a ausência da esperança. É o desespero mais sutil, que vem da certeza de que não haverá volta. Certeza mais certa e que mesmo assim negamos, pois não há explicação ou consolo. Todo o resto é uma mera tentativa para sempre fracassada e humanamente fraca, de fazer sentir melhor. A morte é, para os que ficam, a tortura não só de sentir saudades, mas de imaginar como poderia ser e de repente perceber que agora, simplesmente, não pode ser.

domingo, 14 de outubro de 2012

Espelho, espelho meu

Ela arrancava do espelho todas aquelas fotos dele, e dos dois juntos. Aquelas fotos que ela foi colando durante os meses e que aos poucos foram tomando espaço, impedindo-a de ver o seu reflexo.
Ela foi arrancando pouco a pouco aquelas fotos como se arrancasse um pedaço do seu coração, e as jogava no lixo, com a dor de quem joga fora as lembranças boas, mas sabendo, bem no fundo, de que jogava fora também o sofrimento e a decepção escondidos por trás daqueles sorrisos forçados para as fotografias.
E quando terminou, ela pôde se ver novamente no espelho e naquele reflexo via uma nova de si.

La fin

Deixo para você como herança a minha amargura, o meu mau humor.
Deixo a você a minha rebeldia sem causa, a minha dor. Porque a causa dos meus irmãos eu pego como minha, como quem procura um motivo para sofrer. Mas se a causa é dos meus irmãos, é minha também.
Deixo então, como lembrança, a minha rebeldia com e sem causa, a minha saudade, a minha culpa.
A culpa de saber que a culpa disso tudo não é de ninguém além de minha. Eu escolhi sofrer, pois apesar de tantos motivos para nos deixar infelizes durante essa vida, é a gente mesmo que escolhe se deixar convencer por eles e ceder à tristeza.
Deixo para você, como herança, meus pêsames, não de quem morre, mas de quem nunca viveu. 
Deixo isso para você como herança, e recomeço a minha vida.

domingo, 7 de outubro de 2012

Eu, Tu, Ela

Ela andava pelas ruas com balançado leve enquanto ouvia blues pelos seus fones de ouvido, mexendo os dedos suavemente como se pudesse tocar algum instrumento e no fundo de sua alma desejando que o resto do mundo pudesse curtir aquele som junto com ela, como se todos que passassem ao seu lado pudessem sentir a vibe de sua melodia. Ela andava pelas ruas olhando para os lados como quem procura um olhar de admiração e procurando também alguém para distribuir o seu mais singelo flerte. Ela arrancava alguns olhares, e quando isso acontecia abaixava timidamente a sua cabeça olhando para os seus pés que andavam quase flutuando naquele caminho rotineiro.

Gabriela

Gabriela tinha um grande amor. Daqueles com endereço, CPF, e telefone fora de área às sextas à noite. Um amor que sabia encantá-la com seus beijos e sorrisos, mas que também a machucava com sua indiferença e insensibilidade. Logo ela, tão artista, tão sensível, apaixonada pela vida e cheia de amor pra dar. Gabriela tinha um amor sofrido, e com data marcada para ir para o estrangeiro e só voltar dali a um ano. 
Um ano? Se com ele aqui ela já sofria a sua ausência, ela ia sofrer ainda mais de longe. O que pode acontecer em um ano?
Gabriela sofreu muito a sua falta. Sentiu falta de sair de casa imaginando esbarrar com ele na rua, mesmo morando em uma cidade com mais de três milhões de habitantes. E sentiu falta das conversas de Domingo à noite ao telefone, quando o número dele funcionava para ela. Sentiu falta de, simplesmente, saber que ele estava por perto, mesmo estando tão distante dela em questão de sentimentos.
Numa manhã de segunda-feira, depois de passar a noite de Domingo chorando e o final de semana inteiro se sentindo sozinha, Gabriela acordou diferente. Com os olhinhos ainda inchados, ela percebeu que sempre esteve sozinha, mesmo com tantas pessoas o tempo inteiro ao seu redor. Mas ao invés de ficar com raiva do mundo e mau dizer os seus sentimentos, Gabriela resolveu pegar todo aquele amor, toda aquela paixão, toda aquela vontade frustrada de ser feliz e distribuir para a vida, para o mundo. Gabriela passou a reparar nas flores que brotavam com a primavera, e decidiu experimentar de novo mel, que sempre fez a sua garganta coçar. Gabriela passou a amar o cheiro de desinfetante de quando o banheiro da faculdade acabava de ser limpo, e sentia prazer em escolher um novo shampoo a cada ida mensal ao supermercado. Passou a apreciar ainda mais o pão de queijo quentinho que saía todas as tardes na lanchonete, e até ganhou um quilo e poucos (vai ver ficou inchada era de tanto amor). Passou a amar a todos, até "a poeira que entra no nariz por causa do clima seco". E quando Gabriela passou a amar a tudo, e a todos, ela passou também a amar a ela mesma. Mesmo assim, Gabriela não era hipócrita e sabia que mesmo se amando muito, ela ainda precisaria de alguém pra dedicar todo aquele amor em especial. Alguém que desse sentido. E ela sabia que aquele amor que foi para o exterior, não poderia ser. Mas ela tinha certeza que ela ia achar um amor. Um amor com endereço, CPF, e telefone sempre disponível pra ela. Um amor que tocasse violão, e que entendesse a sua sensibilidade, e que de preferência gostasse de Pink Floyd e tivesse barba.
Um ano passou, o ex amor voltou, e a achou linda, e a distribuia mil sorrisos. E que sorrisos! Mas ela só admirava, e guardava no coração somente os sorrisos, não aquele amor. 
O tempo ia passando e Gabriela conhecia vários caras que tocavam violão, outros que tinham barba e outros que curtiam Pink Floyd. Todos trouxeram encanto, mas nenhum trouxe amor. Tudo bem. Gabriela sabia que todo o seu amor distribuido voltaria um dia para ela, talvez sem violão ou barba, mas de preferência acompanhado de taças de vinho e beijos na testa. 

Julia


Julia não sabia amar. Sabia ser gentil, sabia ser meiga, sabia paquerar. Julia sabia ser charmosa, silenciosa, às vezes arrogante. Sabia não se importar, sabia não demonstrar. E não demonstrava. Vai ver era essa indiferença que os faziam querê-la. Aqueles olhos de um castanho curioso, um olhar autoexplicativo e que mesmo assim faziam qualquer um imaginar o que se passa por trás deles. Olhos que ela puxou do pai, com quem vivia em conflito, por que os seus olhos não a deixavam fugir dele. Os olhos do "velho" que supervisionavam a sua menina tinham a mesma malícia que viam os olhos da filha, que há muito tempo deixou de ser menina.
Julia nunca sofreu. Quando chorava, era só de raiva. Raiva desse mundo hipócrita que não a entendia e que censurava a sua rebeldia. Eu bem que gostaria de te dizer que Julia tinha um motivo para ser assim. Algo, mesmo que ruim, mas que pelo menos justificasse a sua raiva do mundo. Mas não. Julia não tinha motivo. Ela detestava o mundo simplesmente por ele existir, por ele ser como ele é.
Julia fazia sofrer. Às vezes bem que ela gostaria de ter algum sentimento. Mas o desejo era um de seus únicos sentimentos. Desejo de liberdade, de fogo, de rebelião.
De saia curta, salto alto, longos cabelos negros que contrastavam sua pele clara e unhas vermelhas, ela sabia satisfazer os seus desejos e dispensar o amor, como se este fosse um veneno repugnante.
Ela acreditava que amor não era nada além de um fenômeno psicoquímico, como uma droga produzida pelo corpo humano, e que o dela, por alguma deficiência, era incapaz de produzir.
Aqueles olhos castanhos que se destacavam em meio à maquiagem escura, eram uma arma sensual daquela garota que gostava da noite e não tinha medo do escuro. Era do escuro que ela gostava. Do misterioso, do curioso, do bizarro. Do desconhecido, do incorreto, do Rock. Da fumaça, do fogo, do álcool, do louco, do ilegal.
Julia sabia se calar e com o seu silêncio fazia enlouquecer e convencer qualquer um de suas falsas verdades.
E quando abria a boca expressava um espírito questionador e personalidade forte. E ela abria a boca para fumar o seu cigarro como se daquela tragada obtesse todo o seu fogo, e, naquela fumaça libertasse toda a sua angústia. Fumaça densa como a sua alma.
Julia não sabia amar.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Como uma luva

Nos meus passeios por Paris com  uma amiga francesa, nos divertimos fazendo sessões de fotos, pegando o primeiro metrô que passar sem saber pra onde vai, e terminando o dia tomando chocolate quente em um café. Mas uma das nossas atividades favoritas é visitar brechós. Dos mais caros e chiques, que vamos só pra explorar e babar nos artigos vintage, aos mais baratos em que achamos preciosidades por preço de banana!
Numa dessas "aventuras", ela, que detesta a marca de roupas H&M por que todo mundo compra lá e se veste igual, achou um vestido vintage branco maravilhoso, estilo anos 50, bem digno de Marylin Monroe, adivinha de onde? H&M da Áustria! E eu, achei uma jaqueta jeans da Levi's por 10 euros, que me vestiu como uma luva. Eu, que sempre quis uma jaqueta jeans mas nunca achava uma lavagem que me agradasse. 
Isso me fez pensar em um filme que eu assistia quando era pequena, "Quatro amigas e um jeans viajante". No filme, um grupo de amigas de personalidades e tipos físicos completamente diferentes experimentam uma calça jeans que veste incrivelmente bem em todas elas. Quando essas amigas tem que se separar durante as férias, elas decidem compartilhar o jeans. Cada uma fica com ele durante uma semana e envia para a outra, acompanhado de uma carta que narra as histórias que viveu enquanto o vestia.
O que eu acho mais bacana desse negócio de brechó, além, é claro, de achar peças "valiosas" por um ótimo preço e fugir um pouco das modinhas ditadas pelas lojas de departamento, é pensar que cada uma daquelas roupas carrega uma história.
Quando a gente compra uma roupa novinha, é só um pedaço de pano esperando pra ter sua história escrita. E, aos poucos, a gente vai escrevendo nossa história enquanto a veste. Afinal, quem nunca teve uma "calcinha da sorte", ou aquela blusa que sabe-se lá por que toda vez que a veste acontece algo desagradável? E as roupas "herdadas" das nossas avós, mães, irmãs e primas? Quando pequena, eu só usava as roupas usadas da minha prima mais velha, e eu nem tinha mais vontade de sair pra comprar roupas pra mim, eu me divertia mesmo era reaproveitando as dela.  E acho que isso virou um hábito.
Pode ser só superstição, mas eu gosto de pensar que cada roupa nossa, além de nos ajudar a expressar um pouco da nossa personalidade e da nossa história, carrega um pouco da gente. E, quando a gente usa a roupa de um desconhecido, é algo mágico. É uma roupa que pra alguém é velha e sem graça, uma roupa que já viveu tantas histórias e que agora vai achar um outro alguém pra lhe dar novos casos. Por que ele/ela se desfez dessa roupa? Ficou pequena? Enjoou? Saiu de moda? Como se sentiu quando a comprou? Ficou feliz e entusiasmado, por ter se apaixonado por ela desde a primeira vez que a viu na vitrine, ou foi só uma roupa que foi "obrigado" a comprar pra uma ocasião especial e depois quis se desfazer dela pra dar espaço no guarda-roupa? Quantas histórias viveu enquanto a vestia? Quantas pessoas conheceu, quantos beijos deu, quantas vezes teve essa peça tirada do seu corpo por alguém? Quantas cervejas derramou nela, quantos sorrisos deu, quantas vezes se deixou encharcar pela chuva, e quantas lágrimas limpou com a barra da manga? 
O passado dessa roupa é um mistério, e agora ela começa a escrever uma nova história no meu corpo. E já começou bem.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

- Gab, não acha ruim comigo não, mas sabe, eu tava querendo muito uma sobrinha! ... me dá uma?
- Uai, compra!
- Mas como assim? Não posso comprar uma sobrinha, só você pode fazer uma!
- É só ir na loja!
- Como assim? Qual loja?
- Loja de guarda-chuva, uai! Lá tem um tanto de sombrinha, você pode escolher a que você quiser!


- Ô mãe, eu tô querendo mudar o meu cabelo, por que a minha aparência não tá refletindo a minha personalidade!
- Então muda a personalidade, por que a aparência tá muito boa.

sábado, 28 de abril de 2012

Odaxelagnia


De vez em quando apareço com uma coisa incontrolável de morder a boca. A minha boca. Mordo as bochechas, os lábios, só não mordo a língua por que dói muito. Não. Sei lá por que não mordo a língua. Tenho que mante-la intacta pra saborear chocolate. Aliás, deveria era morder a língua por que falo demais. Deve ser isso. Só sei que enquanto eu tô mordendo dá uma dor, mas uma dor gostosa, não consigo parar. Mas aí no dia seguinte dói mais, fica inchado, parecendo que beijei muito no dia anterior - antes fosse! E arde, arde que eu não consigo nem comer o meu chocolate! 
Aí uma vez minha mãe me disse que leu sobre uma atleta que também se mordia a boca pra desviar um pouco o foco das intensas dores musculares causadas pelo esporte.Mas eu não sou atleta. Tô longe de ser. Não sinto dores musculares. Mas péra, o coração é um músculo, não é? É, sinto dor no coração. Eu devia era tá mordendo era a boca dele. Eu me mordo é de ciúmes.

Sentimento sem nome

Uma coisa que me deixa chateada mesmo é não saber o que eu tô sentindo. Que seja ciúmes, saudades, raiva ou até invejinha, mas que eu saiba o que é. E que esse sentimento, por pior que seja, seja muito ele mesmo. Ruim é não sentir nada ou sentir pouco, é estar vazio sem saber como se encher. É querer gritar sem ter voz. É querer bater sem ter força. É ser indiferente mesmo querendo se importar. É querer chorar, mas as lágrimas não saem. Por que juntar sentimento ruim com a frustração de não saber o que é ou de onde vem, aí já é demais. E desconhecendo os sintomas, a gente nunca vai saber a causa e muito menos a cura. E nesse caso, não tem médico pra ajudar. E de psicanalista, eu tenho birra.

domingo, 1 de abril de 2012

Viajando na Ambrosia

Teimosia. Parece nome de doce. "Quer provar minha Teimosia? Fiz agora mesmo, tá fresquinha". Deve ser por que a palavra lembra Ambrosia ou sei lá o que. Aliás, nem sei comé que é essa tal Ambrosia e nem do que é feita. Só sei que é um doce, mas deve ser daqueles estranhos, que só os velhos gostam. Ou então Ambrosia é que parece nome de doença. "Fui ao médico e ele disse que eu tô com Ambrosia". Credo. Talvez seja por que termine com ia. Eu ia mas não vou mais. Asia, teimosia, ambrosia, tia. Tia chata. Detesto uma tia minha. Que doença, que nada! Nem doce. Teimosia pra mim é tempero. É charme. Pode chamar o médico, tentar me levar pro hospital, mas eu não vou por que sou teimosa, mas, péra, é por isso que eu deveria ir. O mesmo motivo que tenho pra ir é o que me faz ficar. Teimosia sem cura. Ai, me deu uma vontade de comer doce...

sexta-feira, 23 de março de 2012

O mundo, meu mundo e eu

Eu sempre quis ser super heroína ou presidente pra poder mudar o mundo. Coisa de criança, que quer o mundo inteiro ao mesmo tempo, ser modelo, atriz, cantora e veterinária quando crescer. E que tem pressa de crescer pra poder devorar o mundo.
Eu cresci. Viajei pelo mundo, e tive o prazer de ver que ele é tão grande e tão pequeno ao mesmo tempo. E que pessoas, ainda são pessoas. No mundo, todo mundo é estrangeiro e nativo.
Aprendi outras línguas, o que me deu a oportunidade de aprender tantas outras coisas e conhecer pessoas incríveis. Troquei o sonho de ser cantora (depois de várias aulas fracassadas de coral), pelo sonho de estudar moda e jornalismo, e fazer arte por aí do meu jeito, sem necessariamente ser considerada uma "artista famosa". Até por que, nem todo famoso é artista e muito menos nem todo artista é famoso.
Eu rodei o mundo e o mundo rodou minha cabeça. O mundo me mudou e eu continuo querendo mudar o mundo.

domingo, 18 de março de 2012

Quando...

Você pensa em largar tudo e virar hippie, mas se pega postando isso na internet. Tarde demais meu amigo, você já foi abduzido.

sábado, 17 de março de 2012

Rotina

Eu não tenho culpa de te achar lindo, charmoso e adorar a forma com que você me olha.
Eu só queria uma companhia sabe, alguém interessante pra sentar ao meu lado no ônibus e compartilhar um sorriso de canto de boca. Alguém que me dê vontade de acordar cedo para pegar o ônibus e ir para a escola só para vê-lo de longe, por que meus olhos já se acostumaram com a paisagem do trajeto, que antes eu achava tão bonita...
Eu não quero que você se apaixone por mim, pois eu sei que nunca vou me apaixonar por você. Mas já me apaixonei pela forma com que você dobra a barra da sua calça deixando ver um pedacinho da sua meia e os seus olhos meio puxadinhos quando você sorri. 
Também não preciso ser a sua motivação para ir pra aula cedo e nem a sua vontade de que o final de semana termine para me ver na segunda-feira. Eu sei que não valho o frio que faz lá fora pela manhã.
Eu só queria que você também me achasse bonita e interessante, só o suficiente para querer sentar ao meu lado na volta da escola de vez em quando para jogar conversa fora, e transformar esse sorriso lindo de canto de boca num sorriso de boca inteira. Sabe, te admirar virou hábito só pra quebrar a rotina.

Prum amor de anos inteiros


Eu te amo e sei que você me ama de uma forma que nunca mais poderei ser amada. Você já me deixou com frio na barriga quanto tantos outros, mas o dos outros já passou e o seu depois de tantas estações passou também, mas não passou despercebido. É que de tanto ter aquele olhar e aquele sorriso e aquele jeitinho de falar por perto, a gente acaba se acostumando e a barriga desembrulha. Eu ainda preciso me acostumar que no seu caso, é a paixão indo embora deixando espaço para o amor. Mas eu não quero que o seu passe assim. Eu bem que gostaria de te amar e ainda ter borboletas na barriga todos os dias com você, então, por favor, me abrace bem forte e me faça rir com as suas gracinhas. Faça meu coração disparar e as minhas pernas tremerem só de ver o seu nome piscando no meu celular. Ou ficar toda vermelha quando te ligo dando a desculpa de que queria saber se você chegou bem em casa ou se passou um bom dia. Eu só queria ouvir a sua voz.
Mas é que já faz quase um ano que eu te amo assim, só de longe. Eu ando sufocada pela saudade, então, por favor, me lembre do quão bom é te amar.
Eu sei que foi escolha minha estar aqui, tão distante, e foi também escolha nossa continuar juntos mesmo sabendo a falta que você ia me fazer. Sei também que o colar que você me deu é pra me lembrar de que você está sempre comigo e a nossa foto continua na minha mesinha de cabeceira olhando pra mim. É que agora, eu só preciso do seu abraço pra saber que valeu a pena. Eu não aguento mais ser o seu amor de verão enquanto você é meu amor de inverno, sem nem te ter aqui pra me esquentar. Eu quero te encontrar logo pra gente voltar a ser amor da mesma estação, aqui no frio da Europa ou no calor do Brasil. Por que aonde você está, até nos dias frios faz calor.

Se entregar

É como o ar que nós respiramos. Quando o inspiramos, passamos a ter dentro de nós algo que, mesmo que só por um segundo, pertenceu a outra pessoa, e quando o expiramos, deixamos partir também um pedaço da gente que nos fez viver por alguns instantes. 
É tudo uma grande troca, um grande ciclo. E enquanto houver ar nos nossos pulmões, a gente vai estar assim, escancarado pro mundo.

terça-feira, 13 de março de 2012

Chorar resolve

Pequena, entrava em prantos e escutava: "não chora não...", "ah, se você chorar eu choro também, para!", "chorar não vai resolver".
Choro sim! Meu motivo é bobo mas se me deu vontade de chorar ele não é mais tão bobo assim! E se você quiser chorar também, senta aí e vamos chorar juntos, por que pra rir eu tenho muitas companhias, mas na hora de chorar sempre me vejo sozinha...
Eu gosto do gosto doce que fico na boca quando choro muito, mas não da garganta ardendo quando não posso me esgoelar. Gosto de ficar com os olhinhos molhados de lágrimas, e acho que fico até mais bonita assim, com a luz certa eles brilham como pepitas de prata. Não gosto de ficar com os olhos cheios de lágrimas se não posso deixá-las escorrer pelo meu rosto, fazendo até cócegas, talvez numa tentativa de me arrancar um sorriso. Gosto dos cílios que se soltam quando as enxugo, me dando a chance de fazer um pedido. Gosto que elas pinguem nos meus lábios dando um sabor de mar.
Não gosto de chorar silenciosamente. Não gosto de chorar escondido. Se eu me escondo, é por que eu não quero que ninguém me interrompa, por que agora o que eu quero mesmo é chorar até soluçar, fazendo bastante barulho igual uma criança birrenta. Por que chorar resolve sim, mas só se for muito, até desidratar. 

Se conselho fosse bom

Eu acho que você está indo muito rápido com as coisas.
Já faz algum tempo que você e a Ana terminaram pela segunda ou milésima vez, e a briga foi feia. Mas outro dia numa bebedeira ela me confessou que ainda gosta de você. Ela nem se lembra que eu sei disso, mas também nem precisava ter me contado, eu já sabia. Nós somos melhores amigas há seis anos e nem isso impediu o orgulho dela de me esconder esse segredo, que na verdade nunca foi segredo pra mim, pois oras, eu a conheço bem e até um cego poderia perceber que ela ainda não te esqueceu.
Você também é o meu melhor amigo, te conheço bem há uns três ou quatro anos, quando vocês começaram a namorar pela primeira vez.
Foi inclusive por causa disso que eu conheci o Gu, o seu "brother", com quem eu namoro há dois anos. Pois é, vocês namoraram, terminaram, voltaram e terminaram de novo, pararam de se falar e eu continuei com ele. Continuei também sendo a melhor amiga da Ana e acabei virando a sua também, logo agora que você deixou de ser "o namorado da minha melhor amiga" e acabou ganhando o posto de "meu-melhor-amigo-ex-da-minha-melhor-amiga".
E o engraçado é que a gente começou a se aproximar quando você tentava reconquistá-la com a minha ajuda. Logo eu, que algum tempo antes presenciava o início do romance de vocês. E acho que a gente tava meio destinado a ser amigos, sabe, naquele mesmo dia em que nós nos conhecemos e eu fiquei bêbada, vomitando pra tudo quanto é lado e você rindo de mim. Quem diria que seria eu que te daria conselhos algum dia.
Pois você já a reconquistou, já a perdeu, e eu continuo tonta no meio dessa história toda. 
Ainda me lembro com saudade dos passeios de bicicleta, dos filmes e dos jantares de casal que a gente fazia, nós quatro, juntos. Os dois melhores amigos, namorando com as duas melhores amigas, formando os dois casais mais apaixonados e divertidos do mundo. Só era meio chato quando rolava alguma discussão de relacionamento no meio de um jantar, por que a intimidade de melhores amigos e namorados misturados nos permitia meter a colher em tudo.
Só que mesmo que agora vocês sejam um caso perdido, eu ouvi falar uma vez que algo em que não se passa nem um dia sem se pensar sobre, é alguma coisa que não se deve desistir. E isso me parece bem o caso de vocês.
Talvez essa teoria funcione mesmo só em filmes de Hollywood, por que acabei tendo que concordar com o que a Ana mesma me disse uma vez e que até ouvi outro dia em uma música na rádio: "Às vezes só amor não é suficiente".
Talvez não seja mesmo não. Mas quem sou eu pra dizer o que o amor é ou deixa de ser. Logo eu, tão jovem, sempre tão azarada com os meninos, a última das minhas amigas a beijar na boca. Eu é que dei sorte mesmo de, de repente, achar alguém tão azarado quanto eu e com o maior coração do mundo pra descobrir o amor junto comigo. Fora isso, eu não tenho nenhuma experiência com relacionamentos que valha a pena se falar sobre.
Eu não sei o que é preciso pra completar o amor, por que pra mim ele já parece muito e acho muito menosprezo falar que amor não adianta. Como assim, amor? 
O que eu sei é que de nada vale ter tudo se não se tem amor. E é nisso que você tá errando feio.
Eu sei que você sempre foi menino de namorar, e apesar de ficar com uma ou outra nas festas, você gostaria mesmo é de levar alguém pra almoçar na casa da sua avó nos domingos e ir ao cinema de mãos dadas.
E mesmo que tenha sido muito de repente que você começou a namorar com a Flávia, eu achei bom. Ela é um pouco mais velha que a gente, madura, estilosa e bonita. Ela é descolada, tem opinião e personalidade forte, e no pouco que conversei com ela, a achei super gente boa, e apreciei bastante o fato dela tratar tão bem os seus amigos. Ela gostava de você e era uma menina diferente das outras. Diferente até das que você costumava namorar. Diferente, principalmente, da Ana, que sempre implicou com seus amigos e com o fato de você fumar maconha. 
Eu sabia que você nunca gostou mesmo da Flávia. Não deu nem tempo dessa paixão virar amor. Você só estava tentando, mais uma vez, achar alguém pra chamar de meu bem e curar o seu coração partido. Eu sempre soube que você é meio carente, embora poucas pessoas o saibam. 
Mas ela te fez muito bem, principalmente nessa fase difícil que você tá passando na sua família e tudo mais. Ela foi sua companheira e dividiu um pouco da sua dor.
Só que mais surpreendente ainda foi o fim desse namoro. Depois de passar alguns dias sozinho na Bahia, você terminou com ela com a desculpa de que ela não ligava muito pra você. O erro dela foi ter sido exatamente o contrário daquilo que você menos gostava na sua ex. Ela não se importava de você ir pra festas com seus amigos e nunca deu piti por causa do seu "caretinha". 
Pra você, ela se importava de menos e a Ana se importava de mais. E você não queria nem um nem outro. Você queria alguém que se importasse sem pegar no pé, e eu acho que era exatamente isso o que a Flávia fazia. Mas nem isso te agradou. Por que na verdade nunca foi esse o problema.
Não passou nem um mês que você deixou a Flá e enquanto eu esperava que vocês voltassem, você começou a namorar com uma tal de Priscila, que tem uma tatuagem baranga, um piercing esquisito e coloca fotos no Facebook de biquini e decotão. 
A Flávia também tem lá suas fotos com as pernas e barriga de fora, mas com ela é diferente. Ela tem bom gosto e é tudo arte. A Priscila que é barangona e me desculpe, com uma cara de puta mesmo. Aquele cabelo oxigenado pra mim não cola.
Eu só queria mesmo que você desse um tempo pra você. Talvez a pessoa que você está esperando sempre esteve ao seu lado. Nem a Flávia, nem a Ana, e nem essa Pri aí. A Paulinha mesmo, que nunca quis nada sério com ninguém, mas acho que vocês dariam certo. Ela só precisa aprender a amar.
Enquanto isso, vocês poderiam continuar ficando sem compromisso, como sempre foi. Os dois de bobeira, com vontade de uma companhia, se ligam num sábado à tarde e se encontram na área de lazer do prédio dela pra fumar um, dar uns amassos e falar da vida. Só isso. Talvez seja tudo o que você precisa.

domingo, 11 de março de 2012

Cheira eu


Estou vivendo na França, o país dos perfumes, hospedada em uma família de acolha, e, assim que cheguei ganhei como presente um perfume Dior. Minha irmãzinha daqui, tem sete anos de idade e vai para a escola usando um perfume DKNY e o irmão, de dez, um Hugo Boss. Quando compro cosméticos em uma loja daqui, recebo uma sacola cheia de amostras grátis de perfumes de grandes marcas como Givenchy e Chanel, que deixo na minha bolsa e a cada dia saindo de casa, experimento uma.
Isso me fez pensar que perfumes sempre foram um caso meio complicado, desde a sua invenção, aqui mesmo na França, para disfarçar os maus odores da falta de banho. 
Existe perfume ''de velho'', de criança, perfume de loja, e até aqueles que dão ''vontade de comer''. A dosagem sempre me deixou em dúvida. Uma vez ouvi falar que a medida ideal de perfume é aquela que se sente quando se cumprimenta a pessoa com um beijo. Eu concordo, mas às vezes acho uma delicia quando alguém medidamente cheiroso passa perto de mim e o perfume bate como uma brisa. 
Essa coisa de exagerar no perfume também é capaz de transformar qualquer fragância francesa em lixo. Uma vez fui dividir um taxi com um cara que usava um perfume gostoso, mas ele tinha exagerado tanto na dose que fiquei até tonta dentro do carro, saí de lá sem nunca mais querer ver um perfume na vida. Pra mim, perfume é que nem remédio. Na dose certa, faz muito bem, mas se exagerar, é uma droga. Mas o maior dilema é: o perfume deve ser uma identidade ou deve expressar nosso humor? 
Todo mundo tem uma tia-avó que só usa Chanel 5, ou vizinha que é conhecida pelo perfume. Aquele cheirinho já trás as lembranças da infância ou quando se entra no elevador, sabe que ela passou por lá. O perfume que a gente usa acaba virando o "nosso cheiro", e adoro quando empresto uma roupa pra uma amiga e ela me devolve dizendo que ficou sentindo meu cheirinho. É tão bom ter essa coisa tão íntima, tão nossa, tão natural, que é o nosso cheiro. Mas ao mesmo tempo gosto de variar de perfumes. São tantos bons, que eu não posso me prender só a um! Quando saio à noite pra uma festa, coloco aquele que é bem doce e feminino, forte demais pra usar de dia. No verão, gosto daquele de frutas que dá uma sensação de frescor, e pra sair com meu namorado eu coloco o que ele mais gosta, que ele, com sua típica delicadeza masculina, diz ter "cheiro de mato". Moschino, ok? Esse mato aqui é um Moschino carérrimo!! Mas eu detesto quando me perguntam o perfume que estou usando. Dizem que a cópia é o melhor elogio, mas pra mim, não há invasão e ofensa maior que imitar o meu perfume. Não fui eu que inventei, mas agora é o meu cheiro. Copiar esmalte ou comprar um vestido igual, ainda vai, mas imitar perfume é quase um roubo de identidade. Confesso que já comprei perfumes que conheci por causa de amigas, mas fiz isso anos depois que eles me foram apresentados e mesmo assim não consigo usá-los sem pensar nelas. Mas agora, quando me perguntam o nome do meu perfume, eu digo: "não sei, deve ser o sabonete mesmo". 

sábado, 10 de março de 2012

Que nem férias de verão

Intercâmbio é que nem férias de verão.
A gente espera por elas o ano inteiro, e tudo o que se faz durante certo tempo tem esse único objetivo.
Às vezes parece que a hora nunca vai chegar, mas sempre chega... E quando a gente vê que tá chegando, fica cada vez mais animado, fazendo mil planos, mas também com um certo aperto no peito de deixar ir embora uma fase que sabemos que passou.
Quando realmente começa, tudo parece tão interessante, são tantas coisas legais pra se fazer! Mas depois a gente comeca a enjoar, e fica doido pra voltarem as aulas pra poder usar o material novo, reencontrar os amigos, e ver o que tem de novidade na escola. Agora, de novo, é tudo divertido, mas depois de alguns meses, tudo o que precisamos são as nossas férias de verão de volta, que sempre achamos não ter aproveitado o suficiente...

É, acho que tudo na vida são férias de verão.

Não foi engano


Era manhã de terça-feira, e os alunos do primeiro ano estavam tendo aula de Português. A professora chamava a atenção de alguns bagunceiros e de outros que se dispersavam. Ela acabara de recolher o celular de uma garota que enviava mensagens. Um outro aluno teve seu Ipod enviado à diretoria, e só o teria de volta com a comunicação dos pais. A regra da escola é clara: nada de aparelhos eletrônicos em horário de aula.
A professora dava um longo sermão na menina negligente, quando foi interrompida por um barulho bem familiar: "Triiiim, triiiiiiiiim", seguido de uma música infantil.
A professora, que já havia perdido a paciência, deu um berro:
- Que brincadeira é essa?! Acabo de falar sobre a falta de respeito que é o uso de aparelhos eletrônicos durante a aula e vocês fazem essa gracinha? O engraçadinho responsável por essa brincadeira de mal gosto irá direto para a diretoria!
Todos os alunos se entreolharam desconfiados. A professora se dirigiu a Joãozinho, o mais atentado da classe.
- Não fui eu não, "fessora"...
Virou-se então para Marcos, mas ele já havia tido o celular recolhido na aula de História. Mariazinha, meio desconcertada, então revela:
- Professora, o barulho vem da sua bolsa...
- Como é, Maria Luz? Como pode me acusar disso? Meu celular está desligado, e eu jamais colocaria uma música infantil como meu toque!
Todos fizeram silêncio e se viraram para a bolsa da professora, que estava em cima da mesa.
 "Triiiiiiiiiiiim! Triiiiiiiiiiiiiiiiim! Patati patatatá vaaamos brincaaar quá quá quá êêê"
O silêncio da turma, contrastado com aquele som, formavam uma sinfonia perturbadora para a professora, que começou a desconfiar, contrariada, de que Mariazinha estava certa.
Foi então, cautelosa em direção à bolsa e a abriu intrigada. Tirou lá de dentro o aparelho celular responsável por aquele escândalo.
- Mas este não é o meu celular! E-e-eu não sei de onde ele surgiu! - Desesperou-se a professora.
Os alunos mantiveram aquele silêncio constrangedor e agora se olhavam assustados, estranhando aquela situação com a professora, que sempre se mostrou tão séria.
Ela tomou coragem e atendeu o telefone.
- A-a-alô?
Do outro lado da linha, um homem, de voz bonita e máscula. Ele dizia ter perdido seu celular e estava ligando para ver se o encontrava.
- Você é do hospital?
- Não.
- Você esteve na festa junina do clube da cidade?
- Não. Eu não estive no hospital e não fui à festa junina nenhuma apesar de ter uma queda por médicos e adorar quadrilha. Eu sou uma simples professora confusa! - desabafou, já muito abalada com aquela desconfortável situação.
- Aaah! Você dá aula no colégio EscoLar, e almoça no restaurante Abobrinha, que fica perto de lá?
- Aham.
- Ah! Eu me lembro de você! Devemos ter trocado os aparelhos celulares no balcão. Eu estava tão distraído com os seus olhos...
Nesse momento o sinal já havia disparado e os alunos já haviam saído da sala, pé ante pé para não atrapalhar aquele momento mágico, e a professora, sem ver o tempo passar, continuou na linha com o homem, numa conversa que durou horas...
Eles falavam sobre arte, política, astronomia... Ela revelou que se não fosse professora gostaria de ser pediatra. Ele, médico do hospital e filho de poeta. “Que bela contradição”, ela pensava...
- Pena que não combinamos muito quando se trata de gosto musical, não? Você não acha que já está bem crescidinho para ouvir musicas infantis?
- Ah, que vergonha! Você se refere ao toque do meu celular? Minha sobrinha que colocou aquela música... crianças, sabe como é, né? Hoje em dia elas sabem mexer em tudo!
A professora calou-se... seu sonho era ter filhos!
Seu pensamento foi interrompido quando se lembrou:
- Ei! Você que me ligou, do meu telefone! Minha conta vai ser arrasadora!
- Então, posso te pagar um jantar para compensar pela conta? Assim poderemos destrocar os telefones...

Comer, Rezar, Amar


Papai reunia todas as noites mamãe, meu irmão e eu na sala de jantar, em um ritual em que o alimento não era mais o personagem principal.
Ele, que foi criado em torno da mesa, fazia questão de tudo como antigamente: toalha posta, todos presentes no horário exato, de mãos lavadas e banho tomado. Se possível, todos os deveres de casa e atividades já deveriam estar concluídos. Esta era a cerimônia de encerramento do dia.
Cada um se sentava em sua respectiva cadeira, que, ao contrário de todo o ritual carinhosamente planejado por papai, foi demarcada naturalmente ao decorrer dos anos em que este ato acontecia diariamente.
Quando chegava, papai abençoava nosso lar com os dizeres: “Que a paz esteja nesta casa e em todos que nela habitam”. Quando não vínhamos correndo abraçá-lo dizendo "Amém", provavelmente por que estávamos entretidos demais com o computador ou televisão, anunciava: “Cristina! Gabriel! Isabel! O jantar ‘tá’ na mesa!”
É claro que estava.
Nos dirigíamos à sala de jantar, e, já postos à mesa, papai mais uma vez nos bendizia, com preces que variavam com a ocasião. Às vezes, em sua oração, honrava a presença de algum convidado, ou comemorava alguma conquista, mas sempre agradecia pelo alimento e pela união de nossa família.
Eu postava minhas mãozinhas frente ao peito em posição de prece, e rezava em voz alta: “Obrigada meu Deus, por esta comidinha tão gostosa, Amém”. Meu irmão, sempre implicante, dizia: “Você não comeu ainda, como sabe que está gostosa?”, o que me obrigou a mudar um pouco minha oração. “Obrigada meu Deus, por esta comidinha que parece estar tão gostosa”.
Finalmente podíamos devorar aquele jantar maravilhoso, e os assuntos, ao contrário de como nos velhos filmes do Poderoso Chefão, não eram limitados. Podia-se falar de negócios, dinheiro, tudo. Foi, inclusive, em uma dessas refeições que descobri que nasci de uma sementinha que papai havia colocado no pão que mamãe comia no café da manhã...
Papai, que comia muito e devagar, fazia questão que todos lhe fizessem companhia enquanto terminava sua refeição. E depois do jantar ainda havia um cafezinho e um pedaço de bolo como saideira. Não entendemos até hoje como era possível comer tanto!
Tendo papai terminado, nos levantávamos da mesa, escovávamos os dentes, nos despedíamos e íamos dormir.
Deitada, sempre com papai ao meu lado, que fazia questão de me botar para dormir todos os dias, rezava o Pai Nosso, ensinada por ele, a oração do anjinho da guarda, ensinada por mamãe, e o Ave Maria, ensinada por vovó. Estas eram as únicas orações que eu sabia e já pareciam suficientes para me manter protegida. E, ao fechar os olhinhos, mais uma vez agradecia, bem no fundo de mim: “Obrigada meu Deus, por esta família tão especial...”

Empreendedores da Alegria


Um grupo de jovens que saem por aí fantasiados de princesa, palhaço, vovó, e qualquer outra coisa que der na cabeça. Eles cantam, brincam, fazem travessuras, e usam uma camiseta colorida que lembra uniforme de escola infantil.
Com eles, uma abóbora vira a história da Coca e a fila do lanche, a brincadeira da serpente. Cada um com seus talentos e personalidade, causam admiração, e arrancam sorrisos e olhares curiosos por onde passam.
Seria um grupo de teatro? Uma trupe de circo? Ou só o Carnaval que chegou mais cedo?
Eu diria um pouco de cada, e muito mais.
Nós somos adolescentes que em meio à uma semana recheada de aulas e trabalhos de Logístisca, Contabilidade e Gestão, separamos um tempinho para inventirmos no nosso maior bem: as pessoas.
Por que a gente sabe que de nada adianta nos tornarmos grandes empresários, advogados ou engenheiros, se não formos acrescentar nada à sociedade além de números.
Em nossos encontros, desenvolvemos nossa capacidade de organização, espírito de equipe e liderança. Ou seja, mais uma vez botamos em prática, e de forma divertida, tudo o que aprendemos em sala de aula.
Nos aproximamos e criamos laços com professores e outros alunos que normalmente não teríamos a oportunidade, trabalhamos nossa desenvoltura, criatividade, e deixamos de lado a correria, a timidez, e todos os outros problemas por um bem maior e comum.
E apesar de oferecer tanto àqueles que precisam, nós ganhamos mais do que ninguém. Adquirimos aprendizados que não se vê nos livros, amigos, e nos divertimos como crianças. Ganhamos sorrisos sinceros e o sonho de uma sociedade melhor e mais humana.
É por isso que eu tenho tanto orgulho de vestir essa camisa.



Esfriou

Férias de Julho: é inverno, mas faz calor. O sol entra pelas janelas e o céu azul chama pra sair. Me deu vontade de ir ao clube.
Uma vontade como um daqueles sonhos bons, que a gente não consegue lembrar e acorda se perguntando se aquilo realmente aconteceu.
Não era vontade de nadar ou me bronzear. Era vontade de ligar para as amigas de manhã para marcar o sol da tarde, ficar fofocando na piscina, me arrumar toda só pra ir ao clube, comprar o sorvete caprichado do Bahiano, e depois ainda ir pro bar lá perto que vende açaí, pra ficar deitada nos "pufs" enquanto planejava o cinema da noite com as amigas, com os lábios roxos daquela delícia, que vinha acompanhado de morango, mel e granola, num pote bem grande de 500 ml.
Quando não voltava para a casa já de noite, morrendo de frio, com os cabelos molhados depois de nada à luz da lua, e as bochechas vermelhas, coradas de sol, eu voltava no final da tarde, esquentava o resto do almoço com a barriga pra dentro de fome enquanto assistia Malhação.
Cheguei no clube, o sol era o mesmo, e o céu azul também, mas não encontrei muito mais que algumas senhoras fazendo hidroginástica enquanto o moço limpava a outra piscina. 
O bar do açaí fechou e virou um escritório, as amigas estão estudando pro vestibular, o novo elenco de Malhação é uma bosta, e o sorvete do Bahiano agora custa dois e cinquenta. 
É, o inverno começou.

TPV: Tensão pré-viagem

De-te-s-to esse estresse pré-viagem.
A confusão começa no momento em que se pensa pra onde ir. Quando o destino é obrigatório, mais fácil. Aí tem que pensar em comprar as passagens, planejar a data, senão, olhar a estadia. Começam as economias: não se faz e não se pensa em mais nada que não seja a viagem. Se for internacional, pior ainda: quanta burocracia! É passaporte, visto, autorização pra isso, pra aquilo... 
Tomar vacina, fazer exames, e de quebra uma limpeza odontológica só pra garantir. Isso tudo pra não dar um pipiripaque "nas gringas".
Fazem parte do processo as compras: se vai pra praia compra biquíni, creme bronzeador, e um pacote na academia pra chegar saradona no verão. Se for pro Ski, tôca, luva, e até meia especial, que custam uma fortuna e a gente nunca mais usa.
Chegou a hora de arrumar a mala. Se tem lista de sugestões, ela só atrapalha: "Até parece que eu só vou usar isso! Lista ridícula!". Bota coisa, tira coisa, e acaba levando a casa inteira dentro da mala. Sem contar com a sensação que te incomoda até o fim te dizendo que tá esquecendo alguma coisa, e, realmente: chegando lá descobre que esqueceu a roupa de banho nova e a escova de dentes.
Na hora de partir, aquela correria! Enfia a mala no carro, coloca as tralhas em vinte posições diferentes até caber. Leva o cachorro pra casa da tia, entrega o papagaio pro vizinho, e dá comida pro peixe suficiente pra quinze dias.
Prepara o sanduíche (ou a farofa) pra comer no caminho, dá uma limpeza na geladeira, e pras donas de casa mais sistemáticas, rola até uma faxina.
Aí todo mundo resolve tomar banho na mesma hora ou senão sempre tem um que atrasa.
"Ai, nós vamos perder o vôo, o ônibus, vamos pegar engarrafamento na estrada!!!". Sim, por que pra quem vai de carro tem que partir antes de o sol nascer!
Mas se você vai de avião, também, por que a ida ao aeroporto, que fica onde Judas perdeu as botas, já é uma viagem em si. E, fora as horas na fila do check-in e do trajeto, tem que esperar de duas a quatro horas pro vôo. Isso se você der sorte da sua companhia aérea seguir a mesma ética de antecedência que eles cobram de você.
Pega fila daqui, dali, corredores imensos, e detectores de metais que apitam até com o zíper da calça.
A poltrona do avião parece ter sido feita pra deixar a sua bunda quadrada, a comida parece de hospital, e o seu vizinho de assento ronca. Não tem problema, você não conseguiria mesmo dormir com suas pernas formigando e o seu tímpano quase explodindo por causa da pressão do vôo.
No carro, sua irmã mais nova vomita ao seu lado enquanto seu irmão recita trava-línguas cuspindo farofa. O CD que sua mãe coloca é até bom, mas depois de rodar oito vezes, pois foi o único que ela levou, você passa todas as suas férias se sentindo nos anos oitenta e sabendo todas as músicas de cór. 
No destino, se ninguém pegar uma insolação ou passar mal por causa da comida bizarra, fora as brigas com seus irmãos e o caldo que você levou na frente daquele gato, tudo corre bem.
Na volta, tudo mais ou menos igual à ida, fora o peixe que morreu de fome, o cachorro que fugiu da casa da tia, e o papagaio que voltou imitando o Faustão.
Ufa! Acho que vou precisar de férias dessas férias.