Eu acho que você está indo muito rápido com as coisas.
Já faz algum tempo que você e a Ana terminaram pela segunda ou milésima vez, e a briga foi feia. Mas outro dia numa bebedeira ela me confessou que ainda gosta de você. Ela nem se lembra que eu sei disso, mas também nem precisava ter me contado, eu já sabia. Nós somos melhores amigas há seis anos e nem isso impediu o orgulho dela de me esconder esse segredo, que na verdade nunca foi segredo pra mim, pois oras, eu a conheço bem e até um cego poderia perceber que ela ainda não te esqueceu.
Você também é o meu melhor amigo, te conheço bem há uns três ou quatro anos, quando vocês começaram a namorar pela primeira vez.
Foi inclusive por causa disso que eu conheci o Gu, o seu "brother", com quem eu namoro há dois anos. Pois é, vocês namoraram, terminaram, voltaram e terminaram de novo, pararam de se falar e eu continuei com ele. Continuei também sendo a melhor amiga da Ana e acabei virando a sua também, logo agora que você deixou de ser "o namorado da minha melhor amiga" e acabou ganhando o posto de "meu-melhor-amigo-ex-da-minha-melhor-amiga".
E o engraçado é que a gente começou a se aproximar quando você tentava reconquistá-la com a minha ajuda. Logo eu, que algum tempo antes presenciava o início do romance de vocês. E acho que a gente tava meio destinado a ser amigos, sabe, naquele mesmo dia em que nós nos conhecemos e eu fiquei bêbada, vomitando pra tudo quanto é lado e você rindo de mim. Quem diria que seria eu que te daria conselhos algum dia.
Pois você já a reconquistou, já a perdeu, e eu continuo tonta no meio dessa história toda.
Ainda me lembro com saudade dos passeios de bicicleta, dos filmes e dos jantares de casal que a gente fazia, nós quatro, juntos. Os dois melhores amigos, namorando com as duas melhores amigas, formando os dois casais mais apaixonados e divertidos do mundo. Só era meio chato quando rolava alguma discussão de relacionamento no meio de um jantar, por que a intimidade de melhores amigos e namorados misturados nos permitia meter a colher em tudo.
Só que mesmo que agora vocês sejam um caso perdido, eu ouvi falar uma vez que algo em que não se passa nem um dia sem se pensar sobre, é alguma coisa que não se deve desistir. E isso me parece bem o caso de vocês.
Talvez essa teoria funcione mesmo só em filmes de Hollywood, por que acabei tendo que concordar com o que a Ana mesma me disse uma vez e que até ouvi outro dia em uma música na rádio: "Às vezes só amor não é suficiente".
Talvez não seja mesmo não. Mas quem sou eu pra dizer o que o amor é ou deixa de ser. Logo eu, tão jovem, sempre tão azarada com os meninos, a última das minhas amigas a beijar na boca. Eu é que dei sorte mesmo de, de repente, achar alguém tão azarado quanto eu e com o maior coração do mundo pra descobrir o amor junto comigo. Fora isso, eu não tenho nenhuma experiência com relacionamentos que valha a pena se falar sobre.
Eu não sei o que é preciso pra completar o amor, por que pra mim ele já parece muito e acho muito menosprezo falar que só amor não adianta. Como assim, só amor?
O que eu sei é que de nada vale ter tudo se não se tem amor. E é nisso que você tá errando feio.
Eu sei que você sempre foi menino de namorar, e apesar de ficar com uma ou outra nas festas, você gostaria mesmo é de levar alguém pra almoçar na casa da sua avó nos domingos e ir ao cinema de mãos dadas.
E mesmo que tenha sido muito de repente que você começou a namorar com a Flávia, eu achei bom. Ela é um pouco mais velha que a gente, madura, estilosa e bonita. Ela é descolada, tem opinião e personalidade forte, e no pouco que conversei com ela, a achei super gente boa, e apreciei bastante o fato dela tratar tão bem os seus amigos. Ela gostava de você e era uma menina diferente das outras. Diferente até das que você costumava namorar. Diferente, principalmente, da Ana, que sempre implicou com seus amigos e com o fato de você fumar maconha.
Eu sabia que você nunca gostou mesmo da Flávia. Não deu nem tempo dessa paixão virar amor. Você só estava tentando, mais uma vez, achar alguém pra chamar de meu bem e curar o seu coração partido. Eu sempre soube que você é meio carente, embora poucas pessoas o saibam.
Mas ela te fez muito bem, principalmente nessa fase difícil que você tá passando na sua família e tudo mais. Ela foi sua companheira e dividiu um pouco da sua dor.
Só que mais surpreendente ainda foi o fim desse namoro. Depois de passar alguns dias sozinho na Bahia, você terminou com ela com a desculpa de que ela não ligava muito pra você. O erro dela foi ter sido exatamente o contrário daquilo que você menos gostava na sua ex. Ela não se importava de você ir pra festas com seus amigos e nunca deu piti por causa do seu "caretinha".
Pra você, ela se importava de menos e a Ana se importava de mais. E você não queria nem um nem outro. Você queria alguém que se importasse sem pegar no pé, e eu acho que era exatamente isso o que a Flávia fazia. Mas nem isso te agradou. Por que na verdade nunca foi esse o problema.
Não passou nem um mês que você deixou a Flá e enquanto eu esperava que vocês voltassem, você começou a namorar com uma tal de Priscila, que tem uma tatuagem baranga, um piercing esquisito e coloca fotos no Facebook de biquini e decotão.
A Flávia também tem lá suas fotos com as pernas e barriga de fora, mas com ela é diferente. Ela tem bom gosto e é tudo arte. A Priscila que é barangona e me desculpe, com uma cara de puta mesmo. Aquele cabelo oxigenado pra mim não cola.
Eu só queria mesmo que você desse um tempo pra você. Talvez a pessoa que você está esperando sempre esteve ao seu lado. Nem a Flávia, nem a Ana, e nem essa Pri aí. A Paulinha mesmo, que nunca quis nada sério com ninguém, mas acho que vocês dariam certo. Ela só precisa aprender a amar.
Enquanto isso, vocês poderiam continuar ficando sem compromisso, como sempre foi. Os dois de bobeira, com vontade de uma companhia, se ligam num sábado à tarde e se encontram na área de lazer do prédio dela pra fumar um, dar uns amassos e falar da vida. Só isso. Talvez seja tudo o que você precisa.