sábado, 28 de setembro de 2013

-

queria poder deixar a dor abstrata
que esse embrulho no estômago
toda vez que penso 
pudesse se transformar em desenho
rabisco nervoso
de preto no branco
pra rasgar 
e atear fogo ao papel
levando as mágoas
com a fumaça ao léu

as palavras que me pego resmungando 
mas gostaria 
- ah se eu pudesse
te sussurrar
me sufocam
e me provocam berros 
quando a agonia do umbigo sobe pra garganta 
que coça, 
e grita e uiva,
e no choro soluça
procurando uma solução
pedindo por socorro
clamando por perdão

perdão que virá desta mesma mente confusa
que criou o pecado
e instigou o malvado
fardo da ilusão
que acusa e maltrata
e destrói
todas as lembranças boas
e castiga e critica
e aponta
pra bem longe a esperança

a esperança boba, sonsa, tola
de que seja mesmo ilusão
de que eu esteja enganada
que tudo isso não é nada

mas o nada que me abraça
também arranha e esbraveja
afogando numa cerveja
minhas supostas 
ultimas lagrimas
Vai ver era verdade minha filha, mas, verdades mudam o tempo todo.
Enquanto alguns gritam
amor livre
e batem no peito
Eu sinto o amor
batendo no peito
Não com a euforia
de paixões libertinas
Mas a calma,
e a verdadeira liberdade
que só o amor pode dar

quarto pra dois

Quando a gente chora de olho fechado
um rio inunda o quarto
E um quarto do que sinto
não é do quarto que tomei
mas da metade que entreguei
Fora um
mas o meio dividiu
ficou de um lado eu
e do outro você
À margem desse rio
que inundou o quarto
Entre quatro paredes
sem porta e sem janela
sem descanso nem tela
Cada um num canto
pintando-se em aquarela

De aço não sou, concreto não serei

Brilham as luzes da cidade
e o concreto lá em baixo
parece silencioso
inofensivo
inocente
assim como as luzes
que chamam meus olhos em silêncio
me calo e escuto
o silêncio da noite
que mais me parece uma melodia
que acalma meus ouvidos cansados
dos gritos do concreto lá de baixo
fecho meus olhos também cansados
das luzes que piscam
quando estou lá em baixo
e adormeço meu espírito por uma noite
pra ver, enfim,
o sol ofuscar
todas as luzes da cidade de concreto

Meninice

A menina quer rodar o mundo
fugir de casa
por que a sua casa é o mundo

A menina quer fugir da mãe
por que a sua mãe
é a natureza

A menina quer fugir com o filho
por que o pai é criança

A menina quer fugir de si
por que se ser
simplesmente não a basta