Era manhã de terça-feira, e os alunos
do primeiro ano estavam tendo aula de Português. A professora chamava a atenção
de alguns bagunceiros e de outros que se dispersavam. Ela acabara de recolher o
celular de uma garota que enviava mensagens. Um outro aluno teve seu
Ipod enviado à diretoria, e só o teria de volta com a comunicação dos pais. A
regra da escola é clara: nada de aparelhos eletrônicos em horário de aula.
A professora dava um longo sermão na menina
negligente, quando foi interrompida por um barulho bem familiar: "Triiiim,
triiiiiiiiim", seguido de uma música infantil.
A professora, que já havia perdido a paciência, deu um
berro:
- Que brincadeira é essa?! Acabo de falar sobre a
falta de respeito que é o uso de aparelhos eletrônicos durante a aula e vocês
fazem essa gracinha? O engraçadinho responsável por essa brincadeira de mal gosto irá direto para a diretoria!
Todos os alunos se entreolharam desconfiados. A professora
se dirigiu a Joãozinho, o mais atentado da classe.
- Não fui eu não, "fessora"...
Virou-se então para Marcos, mas ele já havia tido o
celular recolhido na aula de História. Mariazinha, meio desconcertada, então
revela:
- Professora, o barulho vem da sua bolsa...
- Como é, Maria Luz? Como pode me acusar disso? Meu
celular está desligado, e eu jamais colocaria uma música infantil como meu
toque!
Todos fizeram silêncio e se viraram para a bolsa da
professora, que estava em cima da mesa.
"Triiiiiiiiiiiim!
Triiiiiiiiiiiiiiiiim! Patati patatatá vaaamos brincaaar quá quá quá êêê"
O silêncio da turma, contrastado com aquele som,
formavam uma sinfonia perturbadora para a professora, que começou a desconfiar, contrariada, de que
Mariazinha estava certa.
Foi então, cautelosa em direção à bolsa e a abriu
intrigada. Tirou lá de dentro o aparelho celular responsável por aquele
escândalo.
- Mas este não é o meu celular! E-e-eu não sei de onde ele surgiu! - Desesperou-se a professora.
Os alunos mantiveram aquele silêncio constrangedor e
agora se olhavam assustados, estranhando aquela situação com a professora, que
sempre se mostrou tão séria.
Ela tomou coragem e atendeu o telefone.
- A-a-alô?
Do outro lado da linha, um homem, de voz bonita e
máscula. Ele dizia ter perdido seu celular e estava ligando para ver se o
encontrava.
- Você é do hospital?
- Não.
- Você esteve na festa junina do clube da cidade?
- Não. Eu não estive no hospital e não fui à festa
junina nenhuma apesar de ter uma queda por médicos e adorar quadrilha. Eu sou uma simples professora confusa! - desabafou, já muito abalada com aquela desconfortável situação.
- Aaah! Você dá aula no colégio EscoLar, e almoça no
restaurante Abobrinha, que fica perto de lá?
- Aham.
- Ah! Eu me lembro de você! Devemos ter trocado os
aparelhos celulares no balcão. Eu estava tão distraído com os seus olhos...
Nesse momento o sinal já havia disparado e os alunos
já haviam saído da sala, pé ante pé para não atrapalhar aquele momento mágico, e a professora, sem ver o tempo passar, continuou na linha com o homem, numa
conversa que durou horas...
Eles falavam sobre arte, política,
astronomia... Ela revelou que se não fosse professora gostaria de ser pediatra.
Ele, médico do hospital e filho de poeta. “Que bela contradição”, ela pensava...
- Pena que não combinamos muito quando se trata de
gosto musical, não? Você não acha que já está bem crescidinho para ouvir
musicas infantis?
- Ah, que vergonha! Você se refere ao toque do meu
celular? Minha sobrinha que colocou aquela música... crianças, sabe como é, né?
Hoje em dia elas sabem mexer em tudo!
A professora calou-se... seu sonho era ter filhos!
Seu pensamento foi interrompido quando se lembrou:
- Ei! Você que me ligou, do meu telefone! Minha conta
vai ser arrasadora!
- Então, posso te pagar um jantar para compensar pela
conta? Assim poderemos destrocar os telefones...
O dia em que fui personagem... A ficçao é um espaço insando dentro da realidade...
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