domingo, 11 de março de 2012

Cheira eu


Estou vivendo na França, o país dos perfumes, hospedada em uma família de acolha, e, assim que cheguei ganhei como presente um perfume Dior. Minha irmãzinha daqui, tem sete anos de idade e vai para a escola usando um perfume DKNY e o irmão, de dez, um Hugo Boss. Quando compro cosméticos em uma loja daqui, recebo uma sacola cheia de amostras grátis de perfumes de grandes marcas como Givenchy e Chanel, que deixo na minha bolsa e a cada dia saindo de casa, experimento uma.
Isso me fez pensar que perfumes sempre foram um caso meio complicado, desde a sua invenção, aqui mesmo na França, para disfarçar os maus odores da falta de banho. 
Existe perfume ''de velho'', de criança, perfume de loja, e até aqueles que dão ''vontade de comer''. A dosagem sempre me deixou em dúvida. Uma vez ouvi falar que a medida ideal de perfume é aquela que se sente quando se cumprimenta a pessoa com um beijo. Eu concordo, mas às vezes acho uma delicia quando alguém medidamente cheiroso passa perto de mim e o perfume bate como uma brisa. 
Essa coisa de exagerar no perfume também é capaz de transformar qualquer fragância francesa em lixo. Uma vez fui dividir um taxi com um cara que usava um perfume gostoso, mas ele tinha exagerado tanto na dose que fiquei até tonta dentro do carro, saí de lá sem nunca mais querer ver um perfume na vida. Pra mim, perfume é que nem remédio. Na dose certa, faz muito bem, mas se exagerar, é uma droga. Mas o maior dilema é: o perfume deve ser uma identidade ou deve expressar nosso humor? 
Todo mundo tem uma tia-avó que só usa Chanel 5, ou vizinha que é conhecida pelo perfume. Aquele cheirinho já trás as lembranças da infância ou quando se entra no elevador, sabe que ela passou por lá. O perfume que a gente usa acaba virando o "nosso cheiro", e adoro quando empresto uma roupa pra uma amiga e ela me devolve dizendo que ficou sentindo meu cheirinho. É tão bom ter essa coisa tão íntima, tão nossa, tão natural, que é o nosso cheiro. Mas ao mesmo tempo gosto de variar de perfumes. São tantos bons, que eu não posso me prender só a um! Quando saio à noite pra uma festa, coloco aquele que é bem doce e feminino, forte demais pra usar de dia. No verão, gosto daquele de frutas que dá uma sensação de frescor, e pra sair com meu namorado eu coloco o que ele mais gosta, que ele, com sua típica delicadeza masculina, diz ter "cheiro de mato". Moschino, ok? Esse mato aqui é um Moschino carérrimo!! Mas eu detesto quando me perguntam o perfume que estou usando. Dizem que a cópia é o melhor elogio, mas pra mim, não há invasão e ofensa maior que imitar o meu perfume. Não fui eu que inventei, mas agora é o meu cheiro. Copiar esmalte ou comprar um vestido igual, ainda vai, mas imitar perfume é quase um roubo de identidade. Confesso que já comprei perfumes que conheci por causa de amigas, mas fiz isso anos depois que eles me foram apresentados e mesmo assim não consigo usá-los sem pensar nelas. Mas agora, quando me perguntam o nome do meu perfume, eu digo: "não sei, deve ser o sabonete mesmo". 

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