Não me estranhe doutor
É que de um lado sou nordestina
e do outro imigrante
italiano trabalhador
E do meu pai herdei os olhos
mas o olhar é do avô
Se tenho a pele amarelada
é de tanto comer pequi
Que minha tia montesclarense
trouxe lá do Piauí
E essa mania de poesia
é do bisavô que nem conheci
Se tenho as pernas grossas é por que
minha família rodou muito esse Brasil
Passou pelo Rio de Janeiro, Espirito Santo
e lugares que você nunca ouviu
O meu sobrenome veio de Portugal
junto com o bacalhau
mas essa fome de mundo
eu não sei daonde vem
Alguns voltaram pro estrangeiro
e eu fui também
Por que o meu sangue é mestiço
e fronteira alguma me retém
Então não me estranhe, doutor
Por que meu destino ninguém me diz
Do meu pai herdei os olhos
Mas sou dona do meu nariz
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