Essas histórias ainda ficam na minha cabeça (sinal que não estou tão velha assim), mas hoje mesmo me peguei dando uma de coroa chata. Fui à casa de uma amiga que por motivo e outro, não via há dois anos. E antes desses dois anos vivíamos juntas, todo final de semana eu ficava na casa dela e já me sentia em casa. Quando vi a irmãzinha dela, que surpresa! E-no-r-me! Tinha virado gente! Aquela menininha que antes brincava comigo caladinha e às vezes fazia birra com vergonha de cumprimentar, veio toda-toda dando até dois beijinhos na maior simpatia e contando mil casos. Realmente, uma mocinha. Foi quando minha amiga perguntou se ela se lembrava de mim, e, não fiquei surpresa, ela não lembrou. E apesar de ter nas minhas memórias esse tipo de momentos embaraçosos, não pude evitar dar uma de titia! Falei mesmo, o quanto ela havia crescido, e o quanto sua personalidade estava florescendo, e ainda comentei o trabalho que ela vai dar quando crescer um pouco mais - que menina linda e esperta!
Ao contrário do que eu pensava quando criança, não se passaram mil anos desde quando vi a pequena Giulia pela última vez. Passaram-se dois anos. Ela tinha quatro, agora tem seis. O que, para uma criança, funciona como se fossem mesmo mil anos.
Percebi que o que me assustou mesmo não foi o crescimento daquela menininha, mas o nosso. O meu, e o da minha amiga, que, para nós, os dois anos também acabaram sendo como mil. Nossa altura não mudou muito e nem a nossa personalidade, mas amadurecemos, mudamos de turma, ficamos mais bonitas. Descobrimos quem nós somos e, naquela época, uma contribuiu muito para a outra com relação à isso. E, de repente, chegou a nossa hora de "virar gente grande". Não foi a Giulia que cresceu, ela continua sendo uma criança. Fomos nós que crescemos, e estamos virando adultos. De repente surgiram as responsabilidades, as escolhas, os amores, e é agora que vamos assumir tudo aquilo que, durante esses dezoito anos de vida, fomos resolvendo ser e nem sabíamos.
Sei que ainda sou nova, tenho uma vida inteira pela frente e o mundo em minhas mãos, mas o sentimento do tempo começa, pela primeira vez realmente, a me atingir. Agora eu vejo, que todos os clichês que os adultos nos diziam eram verdade: o tempo voa, eu era feliz e não sabia, tudo era ao meu favor e eu poderia ser, mais ainda, quem eu quisesse. E escolho até hoje, me alternando entre cortes de cabelo e programas diferentes, tentando descobrir ainda, aos quarenta e quatro do segundo tempo, quem eu sou e quem eu quero ser. Eu não preciso ser sempre a mesma, sei que enquanto eu viver vou me moldar como pessoa, mas aos dezoito anos já é bom ter pelo menos uma ideia de quem são meus verdadeiros amigos e do curso que eu quero pra faculdade. Acredite, para mim, agora, isso é sim, questão de "ser ou não ser". Sei que ainda posso ser o que eu quiser e ter tudo o que eu desejo, e que tenho todas as condições para isso. O meu medo é não saber fazer a coisa certa com as oportunidades que me são oferecidas. Tenho a estranha certeza, agora, de que o que aconteceu não pode ser desfeito, que cada escolha, mesmo que mínima, tem suas consequências: boas, ruins ou, simplesmente, consequências. Não há volta, nada vai ser como era antes (e isso me dá até um certo alívio! Deus me livre do primeiro beijo e de todas aquelas crises dos onze anos). O fato é que cada dia, cada segundo, não volta mais, e vivemos em uma contagem regressiva para sermos o que sempre fomos destinados a ser: cinzas. Já o caminho antes disso, é a gente mesmo quem escolhe.
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